Engº Potibus: Por que o 5S para manutenção?

Uma manutenção totalmente produtiva é aquela que, além de realizada dentro do cronograma previamente planejado, é também que garante um aumento de vida útil de equipamento (móvel ou não). Em caso de uma manutenção mal realizada, até mesmo ausência dela, poderá ocasionar diversos problemas em um equipamento, provocando até mesmo mortes de quem nele está diretamente envolvido.

O voo JAL 123 sofreu o pior desastre aéreo envolvendo um único avião
e o acidente revolucionou o conceito de manutenção.

Em 1978, um Boeing 747-SR4 da Japan Airlines sofreu um tailstrike (onde a parte traseira do avião raspou no chão, durante o pouso). Nesse evento, houve necessidade de reparos e parada da aeronave por três meses. Para que a manutenção corretiva fosse executada diante dos padrões japoneses, técnicos da Boeing foram chamados para auxiliar e supervisionar o serviço. Após o término dos reparos, o avião estava apto para voar e voou por mais 7 anos, até o dia 12 de Agosto de 1985.

Imagem do fotografo amador mostra nitidamente a ausência
do leme do avião, poucos minutos antes da queda.

Nesse dia, o Boeing consertado estava fazendo
o voo JAL 123, saindo lotado de Tokyo para Osaka, mas com pouco tempo de voo, a parte traseira (aquela que fora reparada) estourou e danificou, além da estrutura (o avião perdeu o leme), todo o sistema hidráulico (necessário para execução dos 95% de controle da aeronave e nesse evento, ter ou não o leme não faria diferença alguma). Apesar da perda quase total dos controles, a aeronave conseguiu voar por mais 32 minutos, apenas controlada por motores (graças a habilidade dos pilotos). Mesmo com os esforços heroicos, o avião caiu no monte Takamagahara, a 100km de Tokyo. Dos 524 passageiros, 520 morreram, sendo este o maior acidente aéreo envolvendo um único avião.

Com o transcurso das investigações, descobriu que o reparo não foi realizado corretamente e com isso, após o final das investigações, toda a diretoria da Japan Airlines (incluindo o presidente) pediu demissão e o engenheiro da Boeing, responsável pelo conserto do avião, cometeu suicídio.

Pois bem. A Japan Airlines, empresa conhecida pelo melhor serviço de manutenção das aeronaves do mundo, devido ao rigoroso padrão de qualidade para fazer qualquer tipo de manutenção (o Japão desenvolveu a técnica do 5S, regra fundamental para garantir um índice de quebras zero), falhou em um evento crítico, devido a falha de manutenção de uma das aeronaves e resultou em acidente aéreo com grande número de mortos e com isso, esse exemplo tornou para que as empresas japonesas (e do mundo inteiro) reforçarem mais o conceito manutenção, dando alerta ao mundo de que procedimentos de manutenção precisam ser mais rigorosos, para que eventos como esse não voltem a acontecer.

E o que é realmente aquela "manutenção perfeita"? É um conjunto de procedimentos em que visam a garantir o aumento de vida útil de um equipamento, visando a redução de quebras e falhas (o padrão japonês sempre busca ao índice de quebras zero, com o advento do Toyotismo e do 5S), concomitantemente com a qualidade de vida do trabalhador, buscando nele aumento de produtividade sem "sobrecarregar" o trabalhador, com produção e manutenção naquilo que é necessário, com total planejamento prévio, garantindo assim mínima interrupção dos equipamentos e redução de gastos que poderão acontecer quando há parada de equipamentos e quebras imprevistas, que forcem a realização de uma manutenção corretiva.

O que é o 5S?

O 5S surgiu nas empresas do Japão, durante a reconstrução do país depois da segunda guerra
mundial.

O 5S é essencial para o aumento de produtividade e eficiência.

Depois da guerra, os japoneses receberam orientação de especialistas americanos para o controle da qualidade. O que os americanos faziam bem foi aperfeiçoado no Japão, formando-se o que ficou conhecido como Qualidade no Estilo Japonês, ou Total Quality Control (TQC - Controle da Qualidade Total). É o controle dos processos para assegurar o resultado final, entregando os produtos conforme expectativa do cliente, garantindo assim qualidade de vida dos trabalhadores neles envolvidos.

O 5S também pode ser definido como:

• O papel do 5S é cuidar da base, facilitando o aprendizado e prática de conceitos e ferramentas para a qualidade. Isso inclui cuidar dos ambiente, equipamentos, materiais, métodos, medidas, e, especialmente, pessoas.
• No princípio, o 5S era mais focado em liberar área, evitar desperdícios, resolvendo efeitos de guerra e de gestão inadequada. Com os novos desafios, inclusive a evolução da tecnologia da comunicação, o 5S evoluiu.

5S representa cinco palavras japonesas que começam com a letra S. Não é fácil encontrar em outro idioma palavras que têm o mesmo significado de cada termo na cultura nipônica. Por exemplo: Seiri já foi traduzido comoseleção, descarte, senso de utilização. Seiketsu aparece como higiene, padronização, senso de saúde.

E há certo sentido: com o Seiri, fazemos seleção, ou seja, separamos o que é útil de o que não é útil, que será descartado. Assim, é facilitado o uso. Com senso de utilidade/utilização dos recursos, isto é, senso de utilização, a seleção e o descarte e o uso serão mais adequados. No entanto, a palavra descarte, por exemplo, fortalece o sentido de jogar fora, dando pouco valor ao sentido de uso.

Quanto ao Seiketsu, a higiene depende de seguirmos padrões saudáveis de uso, ordem e limpeza. A expressãosenso de saúde representa nossa sensibilidade para avaliar as boas práticas (as práticas saudáveis), capacidade de padronizá-las, assegurando a saúde. Considere saúde para tudo: física, mental, social, financeira, ambiental etc.

A tradução utilizando a palavra senso se tornou uma das mais divulgadas no Brasil a partir de meados da década de 1990. Além de iniciar com S, facilitando a didática do 5S, este termo remete ao bom senso, característica de pessoa sensata. A prática do 5S é um bom meio de apurar a sensatez. Com isso, o 5S deixa de ser uma coisa de fábricas, máquinas, ferramentas. Entendido assim, o 5S pode ser praticado por qualquer pessoa, em qualquer lugar, para facilitar a solução de qualquer desafio.

Finalmente, essa tradução aproxima o 5S de o que é natural no organismo vivo. Praticar 5S é semelhante ao que qualquer ser vivo faz para viver.

Por que necessário o 5S?

Com a alta tecnologia e a velocidade com que chegam e se perdem as novidades, a prática do 5S é mais necessária do que nunca.

Após a guerra, no Japão, era preciso dar um jeito na bagunça para retomarem a vida. Agora, há outro desafio constante a ser atendido, mesmo em países que não passaram por guerra. No mundo de hoje, as coisas chegam muito depressa e rapidamente perdem o valor. Há uma chuva de informações, oportunidades e descartáveis chegando a todo momento.

O papel principal do 5S, hoje, é nos orientar como observar, avaliar e tomar decisões adequadas para nosso crescimento e formação como pessoa, cidadão e profissional.

Com o 5S, teremos serenidade para bom proveito, sem estresse, das oportunidades do novo jeito de ser.

5S X Manutenção

O não planejamento na manutenção provoca
improdutividade, quebras constantes e prejuízos.

Todo trabalho de manutenção exige qualidade. E aplicar o 5S na manutenção faz com que, além que ela seja eficiente, reduza o tempo dela e elimine elementos e procedimentos desnecessários, otimizando todo o processo, sempre buscando a qualidade (do equipamento e de vida de quem nele opera e faz o serviço de manutenção).

Para o trabalhador, a prática de atividades e atitudes saudáveis contribui para o corretamento planejamento de uma eventual manutenção preventiva e aumento de produtividade, pois sem ela, além do serviço desandar, teremos também riscos de operação e futuros problemas relacionados a má manutenção realizada, seja qual for seu tipo.

Portanto, devemos dar mais atenção ao planejamento no que operamos e executamos, inclusive na manutenção, pois sem ele, iremos "viver de quebras", parar um equipamento só para realizar reparos, gastar desnecessariamente e sofremos prejuízos só com um equipamento parado e sem uso.

Heitor B. S. Bezerra é Engenheiro Eletricista e aluno do curso de Mestrado Profissional de Energia Elétrica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com ênfase em manutenção, automação e eficiência energética.